
Quando o cabelo cai, o corpo está pedindo base
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Um olhar ayurvédico sobre queda capilar
Às vezes, a queda capilar parece chegar sem aviso.
Você se alimenta bem, tenta dormir no horário, cuida dos fios com todos os produtos indicados, mas o ralo continua cheio.
E a pergunta vem: o que está errado no meu corpo?
Na visão do Ayurveda, o cabelo não é apenas estética.
Ele é expressão. Reflexo. Consequência.
Segundo os antigos textos ayurvédicos, os fios que crescem da nossa cabeça são um subproduto da meda dhatu, o tecido ligado à nutrição, à estabilidade e à sustentação do corpo.
Se a meda está forte, os cabelos crescem com brilho e força.
Se ela se enfraquece, os fios são os primeiros a sentir.
E esse enfraquecimento não vem só pela alimentação, mas pela instabilidade emocional, pelos excessos mentais, pela falta de rotina ou pela ausência de descanso verdadeiro.
O Ayurveda entende que o corpo responde primeiro nas partes mais sutis:
a pele, os olhos, o sono... e os cabelos.
Eles não mentem.
Eles registram.
Vata: o dosha do movimento que leva os fios embora
No inverno, o frio e a secura aumentam naturalmente o dosha Vata, formado pelos elementos ar e éter.
Vata rege o movimento, inclusive o movimento de soltar o que o corpo não consegue sustentar.
Quando Vata se desequilibra, o sistema nervoso entra em alerta, a digestão se fragiliza, o sono se quebra, e a mente se acelera.
A energia vital (ojas) começa a ser drenada.
E o que está na superfície, como o cabelo, perde sua nutrição.
É por isso que a queda capilar não se resolve só com produtos.
Ela precisa de presença, calor e aterramento.
Cuidar do cabelo é cuidar da base.
Se a raiz é instável, o fio não segura.
E quando falamos em raiz, não é só do couro cabeludo.
É da rotina.
Do sono.
Do alimento.
Do descanso mental.
O Ayurveda nos ensina que o tratamento começa dentro:
-
Refeições quentes, nutritivas, regulares
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Silêncio e previsibilidade no cotidiano
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Sono profundo, antes das 22h
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Toque consciente no couro cabeludo com óleos medicados, como o Força de Gaya
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Preservação da energia com práticas que aterrassem o Vata (como abhyanga e respiração lenta)
O óleo morno na raiz, feito com presença, é mais que um cosmético.
É um tônico emocional.
Um gesto que comunica ao corpo que ele está seguro, que pode reter o que nutre.
Quando o corpo sente firmeza, ele segura o que importa.
A queda diminui quando a base se estabiliza.
E a base não se compra pronta: ela se constrói no dia a dia, com calma, com constância e com gestos pequenos que nutrem por dentro.
Se seus fios andam caindo mais do que deveriam, talvez o convite não seja correr atrás de outro shampoo.
Talvez seja voltar para a raiz da sua rotina.
E lembrar: o cabelo cresce onde há vitalidade.
E a vitalidade nasce do silêncio, do calor e da escuta.