Quando o Cuidado Vira Ritual, o Amor se Torna Presença

 

No Ayurveda, aprendemos que o corpo não é feito à parte da natureza. Ele é a própria natureza em forma de pele, respiração, digestão e silêncio.

Somos feitos dos mesmos elementos que compõem o universo. Tudo o que sentimos, pensamos e vivemos passa por eles. O amor também.

O espaço, ou éter, é a primeira expressão do amor. É a pausa entre um gesto e outro. O intervalo entre o que acontece fora e o que ecoa dentro. É ele quem permite que o cuidado entre, com tempo, com presença, com escuta.

O ar é o movimento que nos aproxima de nós mesmas. É o vento que levanta a coberta para massagear os pés. É o fôlego profundo antes de dormir. É o impulso que leva a mão ao cabelo, não para ajeitar, mas para acolher.

O fogo é o calor que transforma. Mora na digestão, no brilho dos olhos, na clareza do que precisa ficar e do que pode ir. É amor que queima o excesso e deixa só o essencial. É o olhar que ilumina o espelho pela manhã.

A água é o afeto que umedece. Corre entre os dedos no banho, escorre no chá preparado com intenção, umedece os olhos diante de uma memória. Ela não se apressa. Ela envolve. Ela lembra que ternura também é força.

A terra é o contorno que sustenta. É a firmeza dos pés no chão. O corpo que repousa no final do dia. O abraço que ancora. É o gesto de se tocar com respeito, com estrutura, com cuidado.

Amar, no fundo, é reconhecer essas cinco forças trabalhando silenciosamente dentro de nós. É saber que cada gesto de presença é também um gesto de cura. Que toda escolha por desacelerar é uma escolha por voltar. Que a beleza não começa do lado de fora, mas no encontro íntimo com aquilo que nos sustenta.

Quando o cuidado vira ritual, o amor deixa de ser promessa e passa a ser prática. E é nesse gesto silencioso, cotidiano, quase invisível, que tudo se transforma.

Porque o amor, assim como a vida, também é feito de éter, ar, fogo, água e terra.

Deixe um comentário

 
Carregando Ambiente Seguro