O sangue menstrual nasce no rim

e essa frase talvez soe estranha à primeira vista.
Afinal, o que o rim teria a ver com o útero?

Mas essa estranheza não diz respeito à incoerência da frase — e sim ao quanto fomos ensinadas a olhar o corpo por partes, como se um órgão fosse independente do outro, como se a menstruação fosse um evento isolado, que acontece só no útero e que serve apenas para a concepção.

No Ayurveda, o sangue menstrual é expressão da conexão entre órgãos, emoções e caminhos sutis. Ele nasce no rim, percorre o fígado, o coração, passa pelos canais de circulação, os srotas, até chegar ao útero. É como um rio que carrega mais do que água: ele carrega histórias, memórias, o reflexo da saúde de todo o corpo.

Cada fase do ciclo, cada dor, cada alteração no fluxo ou na cor tem uma raiz — e essa raiz nem sempre está no útero.

Se a menstruação vem escura, coagulada, escassa, dolorosa ou até ausente, o Ayurveda não pergunta apenas sobre o seu ciclo.
Ele pergunta sobre o seu sono, sua digestão, sua alimentação, seus traumas, seus medos, seus silêncios.

É por isso que, para essa medicina milenar, o sangue menstrual é um espelho do corpo inteiro.

O que é a menstruação, então?

Não, ela não é apenas o preparo para um possível bebê.
Ela é ritmo.
Ela é uma forma do corpo dizer: "algo foi acumulado, e agora precisa ser eliminado".
Ela é conexão com a Terra, com a Lua, com todas as outras mulheres que, por gerações, sangraram antes de nós.

O ciclo menstrual carrega uma inteligência antiga. E quando escolhemos interrompê-lo com pílulas, não estamos apenas “parando” um sangramento — estamos interrompendo um fluxo que comunica, que purifica, que sinaliza.

A pílula mecaniza.
E a mecânica nos afasta da escuta.
Ela nos ensina que é mais fácil silenciar o corpo do que lidar com seus sinais.

Como você aprendeu sobre o seu sangue?

A maioria de nós aprendeu cedo a ignorar o que sente.
A esconder o absorvente na manga.
A não falar sobre cólica.
A achar que a menstruação “só serve” para engravidar — e que, se isso não é o seu plano agora, então ela é incômoda, suja, inconveniente.

Mas e se a gente reaprendesse?
E se olhássemos para o sangue menstrual como expressão de algo mais profundo?

Se ao invés de reduzir, a gente expandisse.
Se ao invés de calar, a gente escutasse.

No Ayurveda, há uma diferença entre comer e digerir.
Da mesma forma, há uma diferença entre sangrar e fluir.
Para essa medicina, tudo o que você ingere — alimento, emoção, experiência — precisa ser digerido.
Quando isso não acontece, cria-se ama: um resíduo tóxico que se instala no corpo e gera desequilíbrios.

A menstruação é parte desse sistema digestivo sutil.
Se a sua digestão física está lenta, se suas emoções estão acumuladas, se você carrega tensões não processadas, o sangue menstrual se torna um reflexo disso.

Portanto, fome real não é só o desejo de comida.
É o desejo por integração, por escuta, por respeito ao próprio tempo.

Deixe um comentário

 
Carregando Ambiente Seguro